Poesia Parnasiana
A Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, na metade do século XIX e se desenvolveu na literatura européia, chegando ao Brasil. Esta escola literária foi uma oposição ao romantismo, pois representou a valorização da ciência e do positivismo
Características do Parnasianismo
- Objetividade no tratamento dos temas abordados. O escritor parnasiano trata os temas baseando na realidade, deixando de lado o subjetivismo e a emoção;
- Impessoalidade: a visão do escritor não interfere na abordagem dos fatos;
- Valorização da estética e busca da perfeição. A poesia é valorizada por sua beleza em sí e, portanto, deve ser perfeita do ponto de vista estético;
- O poeta evita a utilização de palavras da mesma classe gramatical em suas poesias, buscando tornar as rimas esteticamente ricas;
- Uso de linguagem rebuscada e vocabulário culto;
- Temas da mitologia grega e da cultura clássica são muito frequentes nas poesias parnasianas;
- Preferência pelos sonetos;
- Valorização da metrificação: o mesmo número de sílabas poéticas é usado em cada verso;
- Uso e valorização da descrição das cenas e objetos.
Olavo Bilac (1865/1918)
Defendeu o serviço militar obrigatório, como fator de civismo, e alfabetização. Foi um patriota convicto; é dele a letra do Hino à Bandeira. Foi defensor do abolicionismo e da República e colocou-se contra a ditadura de Floriano Peixoto (exilado em Ouro Preto por suas críticas). Foi contra a neutralidade do Brasil na guerra de 1914. Sempre escreveu para a imprensa, tendo colaborado no jornal A Gazeta de Notícias e em revistas: A Semana, A Cigarra etc.
Único parnasiano que já se iniciou na estética do movimento, Bilac foi um dos fundadores da A.B.L.; foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros.
· A sua poesia pode ser dividida em temas:
o volta a Antiguidade Clássica - Panóplias= armadura de um cavaleiro medieval, “A Sesta de Nero”, “O Incêndio de Roma”, “Lendo a Ilíada” e outros.
o lirismo - 35 sonetos de Via Láctea
o lirismo mais sensualista - soneto “Nel Mezzo del Camin... (cheio de pleonasmos e inversões)
o filosófico, de meditação - Alma Inquieta e Viagens
o épico - no poema “O Caçador de Esmeraldas”, de Viagens (bandeirantes em terras mineiras)
o descritivo e nacionalista - “Crepúsculo na Mata” (descritivo), “Anchieta” e “Vila Rica” (volta ao passado histórico)
o “Tarde” é o soneto da consciência do fim, proximidade da morte - crepúsculo do poeta
· Prosa
Crônicas e Novelas (1894), Crítica e Fantasia (1904), Contos Pátrios (1905, em colaboração), Teatro Infantil (1905), Tratado de Versificação (1905, em colaboração com Guimarães Passos)
Conferências Literárias (1906), A Defesa Nacional (1917, discursos), Ironia e Piedade (1916), Bocage (1917), Últimas Conferências e Discursos (1927), Livro de Leitura (1899).
A mulher e a pátria são temas constantes na obra de Bilac.
Coerente com sua postura estética, sua forma é perfeita, demonstrando habilidade de versificação e pureza da língua. Sua poesia é superficial como visão do homem, pois se detém na camada superficial das cores, dos sons, das combinações plásticas sem mergulhar nas angústias e prazeres do ser humano.
Alberto de Oliveira (1857/1937)
Formação em medicina, mantém profunda amizade com Olavo Bilac e Raimundo Correia. É um dos sócios fundadores da ABL, sendo também eleito Príncipe dos Poetas após a morte de Bilac.
Sempre permaneceu fiel ao Parnasianismo e à margem dos acontecimentos históricos. É considerado mestre nessa estética, com sua temática presa à descrição, desde a natureza até meros objetos, exaltando-lhes a forma. Perfeição formal, métrica rígida e linguagem extremamente trabalhada, chegando, por vezes, ao rebuscamento.
Obras Principais:
· Estreou em 1878 com as Canções Românticas de inspiração romântica, como bem demonstra o título, mas em 1884 publica o seu segundo livro, Meridionais, em que se confessa adepto do Parnasianismo.
· Suas obras principais são: Sonetos e Poemas (1885), Versos e Rimas (1895), Poesias Completas (1900), Poesias (quatro séries até 1927), Poesias Escolhidas (1913).
· Sua obra revela uma gradativa evolução, passando de uma linguagem difícil, vinculada aos temas exóticos de mitologia greco-latina para uma linguagem mais clara e ligada aos temas brasileiros. Revela um gosto especial pela descrição, como nos poemas “O Muro”, “A Estátua”, “O Vaso Grego” etc. Em sua obra, a mulher e a natureza são vistas a partir de uma concepção estética muito rígida.
Raimundo Correia (1860/1911)
Formação em Advocacia, lecionou em quase toda a vida. Tem seu livro Sinfonias (1883), completamente parnasiano, publicado com prefácio de Machado de Assis. Também é sócio fundador da ABL.
Era tímido e triste, sua saúde era debilitada, tendo viajado para a França, à procura de tratamento, quando lá encontrou a morte. Poema-epíteto: “As Pombas”.
Forma a Trindade Parnasiana com Bilac e Alberto de Oliveira. Mantém assim a temática do movimento, destacando-se a poesia filosófica, de meditação, marcada pela desilusão, o fim do sonho e um forte pessimismo. Tem fortes influências impressionistas.
Obras Principais:
· Estreou com um livro de inspiração romântica, Primeiros Sonhos (1879)
· Firmando-se como parnasiano a partir de Sinfonias(1883).
· Outras obras: Versos e Versões (1887), Aleluias (1891), Poesias (1898), Luciano Filho (1898 -ensaio).
Afirmam que Raimundo Correia versejava com tanta facilidade que chegava a escrever em verso as cartas aos familiares. Seus poemas revelam influência do pessimismo de Schopenhauer. A sua percepção negativa do mundo pode ser vista principalmente em “Nirvana”, “Imagem da Dor”, “Desiludido”.Vicente de Carvalho (1860/1911)
Formação em Direito, era republicano e abolicionista. Foi político, advogado e magistrado. Além disso, dedicou-se à agricultura e ao comércio. Ficou sendo conhecido como "O poeta do mar".
Obras Principais:
· Com muitos outros, estreou com a obra romântica Ardentias, em 1885. A partir de Relicário (1888), revela-se um parnasiano não muito escravo das limitações da escola. Essa postura independente livra-o das tendências para a arqueologia e curiosidades históricas, e lhe confere um sentimento vivo da natureza e um senso amoroso que faz lembrar o exemplo tradicional português.
· Rosa, Rosa de Amor (1902), Poemas e Canções (1908), em prosa, escreveu ainda Páginas Soltas (1911) e Luizinha, comédia (seguida de contos), 1924.
POESIAS
Via Láctea - Soneto XIII "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." | ||
-Bilac | ||
Vaso Grego Esta, de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que a suspendia Então e, ora repleta ora esvazada, A taça amiga aos dedos seus tinia Toda de roxas pétalas colmada. Depois. Mas o lavor da taça admira, Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas Finas hás de lhe ouvir, canora e doce, Ignota voz, qual se da antiga lira Fosse a encantada música das cordas, Qual se essa a voz de Anacreonte fosse. | ||
--Alberto Oliveira |
As Pombas Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas, De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sangüínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No Azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais. .. | ||
--Raimundo Correia Matheus |
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