quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Literatura no Cinema: Sociedade dos Poetas Mortos


Sociedade dos Poetas Mortos
(Dead Poets Society, 1989)

"Fui à floresta viver de livre vontade, para sugar o tutano da vida. Aniquilar tudo o que não era vida. Para, quando morrer, não descobrir que não vivi".
Henry David Thoreau

Ficha do Filme


 Sociedade dos Poetas Mortos
(Dead Poets Society, 1989)
• Direção:
- Peter Weir
• Elenco Principal:
- Robin Williams
- Josh Charles
- Ethan Hawke
- Robert Sean Leonard

• Sinopse: Em 1959 na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno se torna o novo professor de literatura. Porém, ele propõe métodos de ensino que incentivam seus alunos a pensarem por si mesmos e apresenta aos alunos a Sociedade dos Poetas...

“Tradição! Honra! Disciplina! Excelência!” estes são os lemas da Academia Weldon (ou “Helldon”, como foi “carinhosamente” apelidada pelos alunos), o berço dos futuros líderes dos EUA. A conceituada escola que tem como principal característica a imposição de seus valores, vê agora com o professor novato Mr. Keating a quebra de muitos dos seus estereótipos. O professor de forma autêntica e inovadora começa a retirá-los daquele mundo de regras e leva-os para uma realidade onde a literatura e a poesia são a essência do ser, onde palavras e ideais podem mudar o mundo.
Keating adota uma metodologia de ensino que desperta a sensibilidade dos alunos, fazendo-os pensar “por si mesmos”, dizendo a eles claramente: “Não lemos nem escrevemos poesia porque é bonitinho. Lemos e escrevemos poesia porque somos humanos e a raça humana está repleta de paixão”. Logo em suas primeiras aulas o professor ensina a todos o que seja talvez o sentido, a razão de todo o filme: Carpe Diem (Aproveite o dia). Em sua introdução leva os alunos para fora da sala e lhes lê o seguinte poema:

As Virgens que Fazem Muito Caso do Tempo
Apanha os botões de rosa enquanto podes
O tempo voa
Esta flor que hoje lhes sorri
Amanhã estará moribunda

E com isto lhes dá uma nova motivação. Algo pelo que lutar, algo para o que viver, dizendo-lhes de forma resumida que aproveitem a vida enquanto há tempo. Introduz-lhes à “Sociedade dos Poetas Mortos”, grupo ao qual ele fez parte, aonde eles iam – superficialmente falando – a uma caverna durante a noite para ler poesias, interpretá-las e vivenciá-las.  Após a introdução do grupo para algum dos alunos, um deles (Neil) propõe aos colegas a retomada da Sociedade, o que é aceito com muita ênfase, afinal seria uma fuga das regras rígidas de Weldon Academy, um reverso da pressão que eles sentem diariamente.
A cena de quando partem para a caverna lembra aos mais novos as fugas de Harry Potter, Hermione Granger e Rony Weasley rumo à floresta proibida com suas capas da invisibilidade, no caso deste filme eles não iam de encontro a um perigo evidente, iam de encontro aos seus sonhos, um lugar onde eles podem ser quem eles quisessem, onde podiam cantar, interpretar, amar...e por fim, iam de encontro à liberdade que tanto lhes era negada.
Enriquecendo a trama, o diretor fez questão de expor poetas pertencentes ao romantismo como Walt Whitman e Henry David Thoreau (representantes do Romantismo Norte-Americano), constantemente citados. Eles remetem ao idealismo enquanto realização do potencial individual. Whitman, tido como o poeta da democracia americana, cantou a confiança no homem natural mais do que nas instituições. Foi ferrenho opositor de modos de vida e de costumes que considerava ultrapassados.
Época de dualidades e contradições, o Romantismo corresponde ao período em que o suicídio foi entendido como uma forma de evasão da alma, ou seja, caminho para o desejável distanciamento do mundo real e conseqüente encontro integral consigo mesmo, com a verdade individual. Longe de ser um ato de covardia ou desespero, portanto, pode ser entendido como gesto de auto-libertação.  Mas, enquanto alguns cultuam a morte, outros cantam a vida. Keating adota o carpe diem – palavra de ordem do Barroco, período marcado pela vaidade e irracionalidade, tanto quanto pela preocupação com a transitoriedade de todas as coisas –, mas a tragédia se revela como resultado de seu empenho mal interpretado, de suas idéias que ganham autonomia na mente de adolescentes.
E fazendo uma analogia ao Romantismo, o personagem Neil tocado pelas aulas de Keating vai fazer o que ama, que é interpretar. Ele consegue um papel para uma peça de Shakespeare e chega a falsificar a assinatura de seu pai para poder fazer parte da peça, o que era uma grande afronta tendo-se em vista as cenas iniciais onde Neil é completamente reprimido pelo pai. Quando isso chega ao conhecimento dele, ele repudia o fato dele esta fazendo teatro já que não era nada disso que ele planejava para o seu filho. Neil ignora e faz a peça, sendo que as cenas finais foram na presença de seu pai que decidiu mudá-lo de escola. No final, Neil se vê reprimido pelo seu pai cego por suas crenças e estereótipos e encurralado pelo “direito de obedecer” ele decide renunciar a própria vida. E junto com seus sonhos despedaçados pelo autoritarismo de seu pai se esvaiu também a sua vida... 

Embora à primeira vista o filme soe tendencioso, pois coloca o professor como herói, os pais e a instituição escolar como vilões, o autor acaba por deixar em aberto uma discussão que vai muito além do certo e errado. Aos pais cabe encaminhar o futuro dos filhos, escola e professores têm papéis a cumprir. Trata-se, portanto, de questões profundas que não podem ser apresentadas superficialmente, em meio à frases de efeito. Mas eu diria que para a compreensão da essência deste filme há de haver paixão pelo conhecimento, pelo ser, pela vida... ,pois se não tiverem esta percepção talvez o filme lhes pareça banal e até entediante. Deixo este poema belíssimo de Whitman, citado no filme, para reflexão:

Oh Me! Oh Life!
Oh me! O life! of the questions of these recurring,
Of the endless traines of the faithless, of cities fill’d with the
foolish,
Of myself forever reproaching myself, (for who more foolish
than I, and who more faithless?)
Of eyes that vainly crave the light, of the objects mean, of the
struggle ever renew’d
Of the poor results of all, of the plodding and sordid crowds I
see around me,
Of the empty and useless years of the rest, with the rest me
intertwined,
The question, O me! so sad, recurring–What good amid these,
O me, O life?
Answer.
That you are here – that life exists and identity, that the powerful play goes on, and you may contribute a verse.

by Walt Whitman


Bianca

Fontes:

Filme: Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society, 1989)
Pesquisas: 
Romantismo: http://www.brasilescola.com/literatura/romantismo.htm
Walt Whitman: http://beardedroman.com/?p=43  e http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/whitman.htm


Trailer:








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